Um Insight de cara nova. Nesses seis meses em que escrevo (quase) semanalmente um feedback tem sido constante: a newsletter é muito longa.
Como diria Sam Walton, fundador do Walmart, o consumidor sempre tem razão. Por isso, vou experimentar com um novo formato. Ao invés de notícias em todos os setores vou escolher uma notícia na intersecção de negócios, tecnologia e venture capital para elaborar em como isso afeta os EUA, o Brasil e o mundo. A ideia é fazer com que mais pessoas leiam os textos e seja mais fácil de compartilhar quando há apenas um assunto e uma leitura de 5 a 10 minutos.
O “Resumo do Mercado” e a “Conversa de Bar” serão mantidos para informar sobre o que de importante aconteceu na semana e mostrar algo engraçado que vocês possam compartilhar como curiosidade no seu dia-a-dia. Não esqueça de compartilhar e de se inscrever caso esta seja sua primeira vez por aqui.
Resumo do Mercado:
Os mercados têm reagido bem à notícia da vacina e já olham para 2021, ignorando a alta nos casos e mortes ao redor do mundo. Nos EUA, o congresso aprovou de última hora no sábado um orçamento temporário para o governo e no domingo o pacote fiscal de ajuda à população por causa do coronavírus.
Na sexta a Tesla entrou pro índice da S&P 500, dando selo Blue Chip numa das ações mais quentes do ano. Asset Managers e investidores que imitam o índice negociaram insanamente os papéis da empresa. 200 milhões de papéis foram negociados num valor total de 131 bilhões de dólares. Para vocês terem ideia, o recorde de movimentação diária na B3 foi de R$ 26 bilhões no dia 5 de julho. A Tesla subiu 6% sexta e acumula alta de 730% no ano.
No Brasil o governo está atrasado no plano de distribuição da vacina e das reformas estruturais que são necessárias para acabar com o risco Brasil. O investidor segue animado e o fluxo de dinheiro gringo ajuda nossa bolsa. O Ibovespa que já opera no território positivo no ano parece estar confiante que estes problemas serão resolvidos em 2021.
No entanto, chegamos ao final de 2020 com uma triste estatística. O Brasil cresceu 2,2% na década, enquanto a média mundial foi de 30,5%.
O dólar caiu 0,29% para R$5,08 no pregão de sexta.
Índice Pontos Mudança %
DJIA 30179.05| -124.32| -0.41%
S&P 500 3709.41| -13.07| -0.35%
Nasdaq Composite 12755.64| -9.11| -0.07%
Bovespa 118023.67| -376.90| -0.32%
Além das Carnes
Nos últimos anos vimos algumas startups terem sucesso comercial desenvolvendo hambúrgueres e salsichas em laboratórios.
Empresas como Beyond Meat e Impossible Foods foram as duas pioneiras do setor, mas o sucesso dessas empresas já fez com que empresas tradicionais de alimentos, como Tyson Foods e Nestlé, seguissem o passo e criassem seus próprios laboratórios de carne artificial.
Os preços dessas alternativas têm caído nos últimos meses, aproximando-se do preço de carne de verdade. O número de vendas também tem subido, indicando aumento da popularidade. As vendas destes produtos em supermercados subiram 264% durante a pandemia. Parcerias estratégicas como Dunkin Donuts e Burger King ajudam a introduzir o produto para uma ampla audiência, que pelo visto se tornaram consumidores.
A proposta das empresas é interessante. Ninguém comia hambúrgueres e salsichas vegetarianos (além dos vegetarianos e veganos) porque o sabor não era o mesmo do que um hambúrguer normal, muito pelo contrário. As opções antigas normalmente eram uma bomba de sódio sem muito sabor. Ao desenvolver carnes veganas com sabor de carne real as empresas mudam o equilíbrio da equação e criam algo que é mais saudável e que tem um sabor equivalente à opção real.
Eu já fiz o teste duas vezes. Fui ao Burger King e pedi o “Impossible Whopper” e o “Whopper” normal. Na lanchonete da faculdade pedi o hambúrguer normal e o “Impossible Burger''. Nas duas situações o sanduíche de carne de laboratório estava muito bom, essencialmente indiferente comparado ao normal. Não acho que o resultado seria o mesmo em uma hamburgaria “gourmet” com qualidade de carne mais elevada, mas a aposta dessas empresas é justamente essa.
Eles não estão apostando que a população se tornará vegana, mas que pessoas conscientes sobre sua saúde irão optar por comer carne de verdade quando seja de excelente qualidade (um bom bife em um restaurante ou peças inteiras de carne num churrasco) e para o dia-a-dia usaram essas alternativas mais saudáveis, menos calóricas e melhores para o meio ambiente.
Essas empresas criam as carnes no laboratório usando proteína vegetal derivada de ervilhas, batatas, beterrabas, soja, arroz e muitos outros vegetais. As empresas usam um processo de extração de DNA de plantas que é misturado com o fermento para dar consistência. O sabor é derivado de uma combinação de óleos vegetais, temperos e o bom e velho sal.
Mas o ser humano é criativo e empresas tem que crescer, o que nos faz pensar, qual será a próxima fronteira da comida de laboratório?
Eis um pouco do que esperar para o futuro.
Em Singapura, um país que importa 90% de sua comida, o governo autorizou a empresa Eat Just a comercializar carne de frango criada em laboratório. Esses nuggets de frango não são como as carnes da Impossible ou Beyond que são feitos à base de vegetais. A empresa de fato criou a carne de frango a partir de algumas células em um laboratório.
O processo separa células de um frango e as coloca em um biorreator, onde são alimentadas. A empresa garante que o resultado final é uma carne bem mais limpa do que o de uma ave de uma granja industrial, já que não leva antibióticos nem hormônios. O preço ainda é relativamente alto, mas nada como tempo e avanço de tecnologias para baratear um produto.
Outro lugar onde veremos inovação será na pesca e aquicultura.
A pesca industrial é em grande parte danosa ao meio ambiente. Desde a sobre pesca, que diminui a chance da regeneração da população de peixes, ao estrago ambiental promovido pela pesca de trolha que destrói corais e o subsolo marinho e captura tartarugas, tubarões e outros animais com a captura acidental, ao trabalho escravo em navios pesqueiros em partes da Ásia. Para completar, não temos mais de onde pescar. Um relatório da ONU afirma que 80% das áreas propícias para pesca e criação de peixes já estão operando em capacidade máxima ou além do que é sustentável.
Por isso startups como Good Catch criaram “atum” vegetal. Essas empresas enxergam potencial para consumidores no ramo de enlatados. Caso esse “peixe” de laboratório seja um bom substituto poderemos observar o mesmo efeito que a Beyond e a Impossible fizeram com carnes. Para comer um sushi ou fazer uma moqueca usaremos peixes de verdade. Para o sanduíche de atum e para a comida do gato usaremos o “peixe”.
Outras startups como a Ÿnsect, já mencionada em uma newsletter em outubro, apostam na criação do alimento para os peixes em laboratórios. Isso seria fundamental para mitigar o impacto ambiental da aquicultura, em que os peixes criados nessas fazendas se alimentam de peixes menores capturados no mar aberto com a pesca de trolha, que como já vimos é danosa.
Todas as inovações podem virar o nariz dos mais tradicionalistas com relação à comida. No entanto, essas empresas são um hedge para a segurança alimentar do mundo. Apesar de que hoje produzimos suficiente comida para toda a humanidade, desperdiçamos muito na logística. A situação pode piorar antes aperfeiçoarmos a distribuição de alimentos devido ao crescimento da população mundial e o aquecimento global, que põe em risco terras que hoje são propícias para a agropecuária mas podem deixar de ser nos próximos 10 ou 20 anos.
O Brasil está em uma situação interessante. A estimativa é de que em 2021 a agropecuária brasileira alcance R$ 1 trilhão. Mesmo assim, o Brasil terá que caminhar numa corda-bamba. De um lado continuar a expansão dessa indústria para abastecer o mundo e crescer nossa economia e do outros os problemas ambientais, principalmente o desmatamento, e as consequências. Por exemplo, países europeus e o presidente-eleito Joe Biden já ameaçam sanções caso o Brasil não reverta a situação na Amazônia.
Em um futuro não tão distante países podem vir a apostar em seus laboratórios para crescer seus alimentos e garantir a independência alimentar e a “consciência limpa”.
No final do dia a corrida é, e sempre será, contra os preços. Teremos de inovar para manter a safra produtiva, barata e diminuir o impacto negativo ao meio ambiente.
Conversa de Bar
Uma história pra deixar você sem dormir. "Mutual Assured Destruction" é um tipo “Deterrence Theory”, ou estratégia de contenção. Essa doutrina militar usada (oficialmente ou não) pelos EUA e antiga União Soviética (hoje ainda usada pela Rússia) no que diz respeito às armas nucleares.
A estratégia funciona assim: ambos os países têm vastos arsenais nucleares que estão sempre ativados e prontos para serem disparados. O fato que ambos os países podem acabar um com o outro faz que nenhum queira ativar seu arsenal, especialmente em uma situação de alarme falso.
O conceito faz valer o conceito chamado de Nash Equilibrium da Teoria de Jogos. Nenhum país com capacidade nuclear tem o incentivo de atacar, sabendo que caso ataque a chance de que todo o mundo seja destruído é quase certeira.
Os países têm sistemas que funcionam praticamente como “Doomsday Machines”. A hipotética máquina é um sistema que ativa automaticamente e sem nenhuma interferência humana bombas nucleares quando um país é atacado. Os sistemas que existem tanto na Rússia, a Dead Hand, como nos EUA, o Nuclear Command and Control, possuem fator humano na tomada de decisão mas operam no mesmo princípio.
Você talvez não esteja tranquilo lendo isso, mas deveria. A matemática de Nash diz que essa é a melhor maneira de evitar o desastre completo. Isso ou que nenhuma país tenha armas nucleares, mas essa opção parece difícil de se tornar realidade.
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O Insight é meramente informativo, não configurando como relatório de análise nem como recomendação de investimento.